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Haicais
de Carlos Martins
http://poemizando.sites.uol.com.br/haicai.html
Haicai: Um caminho de vida em tres versos.
Mais
um jogador
no gramado seco do estádio
O quero-quero.
Árvores
sem folhas
no caminho de volta
à
terra natal.
Dia
da Independência
Som de água no tanque
e mais nada.
Estrada
de inverno
Solitário, exatamente,
como anos atrás.
O
vento livre
no vagão vazio de gente
Final de inverno.
Flocos
de algodão
No sorriso da menina,
o campo branco.
Calçada
perfumada
Cheiro das folhas no chão,
depois da garoa.
Fumaça
de incenso
dança suave com seu par
Brisa de inverno.
Ve-se
do avião
somente pontos de luz
Noite sem lua.
Afinam
o coro
Mosquitos de primavera
voando no quarto.
Forte
sol de inverno
Lembro dos ovos no carro,
ao fazer haicais.
Flores
de inverno
Na estrada, elas também,
cheias de poeira.
Poetas
no renga
Crisântemos amarelos
e o Buda, observam.
Vento
cortante
Vizinhos falam do tempo,
além de bom dia.
Luz
do meio dia
Azaléias...Azaléias
na avenida inteira.
A
favor do vento,
As folhas secas no chão
abrem meu caminho...
Imito
a tosse
matinal de minha mãe
Netas se divertem.
Noite
sem fim
Pelos cantos do velório,
os hálitos brancos.
Altar
de Buda
Conserva a etiqueta de preço,
melão da oferenda.
Ocaso
de inverno
Mulher conduz o marido
que fala sozinho.
Manhã
de sol
Passeia no prado seco
a senhora miúda.
Canta
o sabiá
Nova música ambiente
toca no escritório.
Pequena
aranha
é despejada de casa
Lavagem de escarola.
O
ar cinza
Nuvem de poluição
envolve a cidade.
Acaba
a solidão
do café da manhã --
Lesma peregrina.
Vento
da manhã
Com pétalas quase brancas,
a azaléia cai.
Cresce
na varanda
do casarão em ruínas
Capim de inverno.
Rosa
de inverno
Suavemente balança
ao vento da tarde.
Visão
delicada
Na pequena cerejeira,
primeira florada.
Luz
do crepúsculo
Evolui sobre a lagoa,
urubu solitário.
Adultos
sem jeito
nas brincadeiras de roda
Dia dos Pais na escola.
Flores
de cerejeira
Úmidos na madrugada,
quatro botões.
Canteiro
de obra
A azaléia florida
em meio ao entulho.
Céu
azul de inverno
Na janela do avião,
olhos de menino.
Encrespa
as águas
da Baía de Guanabara
Vento de inverno.
Um
haicai da Mestra,
no avião, comigo viaja
Noite de inverno.
Parque
de inverno
O gira-gira rodando
sem ninguém por perto.
Ah!
Dia dos Pais
Carinhos escritos das filhas
em toda parte.
Distante
dos seus,
voa com os urubus
Atobá solitário.
Acordo
mais cedo
O casal de maritacas
namora no telhado.
Aurora
de inverno
De um telhado de barro,
lento, o sol nasce.
Noite
de geada
Recados de namorados
no vidro do carro.
As
sardas pintadas,
lambuzadas com canjica
Caipirinha urbana.
Com
jeito infantil,
velhos disputam canjica
no fogão a lenha.
Por
do sol dourado -
As pipas observam os guris
em cima das lajes.
Madrugada
fria
Pelas ruas desertas,
caminho intranqüilo.
Casarão
antigo
Nos azulejos desbotados,
a chuva de inverno.
Maciez
ao toque
A penugem de musgo
na araucária fêmea.
Pinheiros
do brejo
Uma alameda de galhos
na entrada do parque.
Sob
as águas lentas,
o desenho das pedras
Cachoeira de inverno.
Lagoa
de inverno
Os patos brancos grasnando,
despertam o vale.
Árvore
sem folha
o vento da manhã sopra
sem deixar presença.
Na
calma lagoa,
ilhas no céu azul refletido
Aguapés de inverno.
Trilha
de inverno
Para vencer a subida,
cajado na mão.
Caminha
solitária,
na flor quase sem vida
Abelha de inverno.
Floresta
de inverno
subitamente os caminhos
desaparecem.
Música
suave
O som da água gelada
que cai da barragem.
Lua
de inverno
Mendigo procura um canto,
para o cobertor fino.
Flores
de azaléia
Na cerca viva esta manhã
muito mais vida.
Manhã
de inverno
Canta, à
primeira luz,
um galo rouco.
Inverno
a meio
Sem se importar com a moda,
as pessoas na rua.
Cristo
Redentor
O capim de inverno curva-se
ao vento constante.
Noite
de inverno
Levita sobre a cidade,
o Cristo iluminado.
Um
dedo de pedra,
Sustenta as nuvens no céu
Serra de inverno.
Beira
da praia
Rodeados de folhas secas,
garis se concentram.
Mar
de inverno
Os solitários da orla,
sempre acompanhados.
Céu
azul de inverno
Fumaça do barco que parte,
insiste em ficar.
Um
longo adeus
Perfiladas na estrada,
as flores de inverno.
A
chuva implacável
Tanabatas coloridos,
do céu para o chão.
Após
a chuva,
pingos brancos no varal
O frio pendurado.
Cerejeiras
em flor
Envolvendo o Buda,
a nuvem rosada.
Nevoeiro
de inverno
Em procissão para o céu,
luzes na montanha.
Vaso
natural
Em frestas no casarão,
samambaias crescem.
As
gotas da chuva
sobre as flores no jardim
Ah, que frio!
Entrada
da favela
Barracos mal-acabados,
suinã em flor.
Presente
de mãe
Com a visão abalada,
último cachecol.
Chuva
de folhas secas --
Velho casal, de mãos dadas,
segue seu caminho.
Caliandra
florida
Sobre o calvo pedestre,
os pompons vermelhos.
A
rua vazia,
bares cheios de risadas
Vento cortante.
Bruma
de inverno
As luzes da cidade
apagam-se aos poucos.
Profunda
quietude
A voz do mestre de haicai
e os grilos de inverno.
O
velho haijin,
selecionando poemas
Inverno sereno.
Dente-de-leão
Sopro as sementes aladas
e faço um pedido.
Lendo
um velho livro,
vou só, madrugada adentro
Início de inverno.
Névoa
sob a ponte
os carros como que voam
no vale branco.
Lá
se vão os santos
para
mais um ano ao relento
Mastro
junino.
Terço
junino
No
coro de ave-marias,
latidos
de cão.
Poção
de quentão
Velhas
de orelhas vermelhas
riem
sem parar.
Reza
de são Pedro
O
garoto endiabrado
de
terço na mão.
Sol
de inverno
Uma
calçada repleta,
outra
vazia.
Pássaros
de inverno
ao
peso dos anus-brancos,
balançam
os galhos.
Pombo
de inverno
Na
estátua de olhos vazados,
observando
a praça.
Vêem-se
da varanda,
no
céu límpido, os balões
no
lugar de estrelas...
Inverno
chegando
Na
rua, desfile de mãos
no
fundo dos bolsos.
Lareira
crepita
As
sombras em movimento,
os
corpos parados.
Hálitos
brancos
As
risadas dos amigos
tornam-se
nuvens.
Mercado
de flores
Na
prostituta e no crisântemo
o
mesmo branco.
Convite
ao silêncio
O
som das folhas secas
pisadas
na trilha.
Cochilar
de inverno
Solta
um suspiro profundo
o
cão no tapete.
O
capim de inverno
Na
paisagem desolada,
um
cavalo insiste.
Manhã
fria de outono
Caminho
na rua da infância
calçando
sapatos.
Alvorada
fria
Aninhado
nas folhas,
botão
de tulipa.
Folhas
amarelas
Mestra
de haicai ensina
antigos
caminhos.
Noite
de outono
Cedendo
à
indiferença
os
latidos cessam.
E
se foi o último
mosquito
sobrevivente
Tapa
inesperado.
Outros
percorreram
este
caminho solitário
Outono
avançado.
O
amigo recolhe
torrão
com muda de umê
Chuva
de outono.
O
silêncio
torna-se
um
passageiro do carro
Outono
na estrada.
Madrugada
de outono
No
bar, dançam forró
mulher
e alguns homens.
A
serra de outono
No
início da descida
o
casal se cala.
No
primeiro dia
uma
branca outra vermelha
Ah!
flores de maio.
Taturana
negra
O
alerta e a mão da criança
estanca
no ar.
Céu
azul profundo
Demora
a sumir na noite
avião
de carreira.
Arco-íris
de outono
Debruçado
na janela
casal
observa.
O
velho recorda
sua
infância no terreiro
O
café cereja.
Flores
do Alfeneiro
Mesmo
a três
casas daqui
persiste
o perfume.
Os
peixes se foram
Libélula
se equilibra
na
ponta da vara.
Um
tanto agradável
vagão
do Metrô lotado
Prenúncio
de inverno.
Lua
nova espanta
os
pensamentos ruins
A
filha atrasada.
Vento
adocicado
Pelo
janelão aberto,
manacá-de-cheiro.
Chuva
de outono
A
serra de todo dia
oculta
na manhã.
Árvores
na neblina
Por
enquanto de si mesmas
apenas
esboços
Túnel
do metrô
A
borboleta distante
de
todas as flores.
Fugindo
da chuva,
a
mariposa se aninha
em
meu paletó...
Sexta-feira
Santa
Asso
as sardinhas e batatas
feito
minha mãe.
Céu
azul profundo
Um
velho ensina a pilotar
o
avião de papel.
Caqui
maduro
A
velha e o pano de prato
como
babador.
Céu
límpido de outono
Meninas
e seus barquinhos
na
bacia azul.
Mercado
no outono
Na
banca de fumo de corda
conversa
de velhos.
Tarde
de neblina
Risco
tênue
delineia
a
serra encoberta.
Noite
de outono
Amigos
bebem chá verde
e
escrevem poemas.
Sorrindo
percebo
a
idade de meus sapatos
Chuva
de primavera.
Lua
cheia no templo
cabeça
rapada do bonzo
iluminada.
Primeira
benção
Odor
de dama-da-noite
na
entrada da igreja.
Domingo
de Páscoa
As
velhas mãos portuguesas
desfiam
bacalhau.
Grama
de verão
Na
estação abandonada
lota
a plataforma.
A
nuvem de outono
faz
sombra no Corcovado
Tudo
o mais é luz.
Entrada
do aeroporto
O
adeus às
quaresmeiras
antes
de embarcar.
Entre
o pescador
e
o cardume de curimbas
o
fio do destino...
Correria,
risadas,
crianças
de copo na mão
Caça
aos vaga-lumes.
Por
sobre a enxurrada
medindo
com o olhar
o
alcance do pulo...
Manhã
de neblina
Um
vulto sai lentamente
do
céu que baixou.
Em
silêncio,
o velho
pousa
seus olhos no amigo
envolto
em crisântemos
Mercado
de flores
Vendedora
traz nos braços
um
jardim de rosas.
As
gotas de chuva
na
hortênsia
da floreira
Que
noite tranqüila!
Mas
que Carnaval!
Desfilando
sem parar
a
chuva na calha...
Chuva
de verão
Brota
de todos os cantos
um
cheiro de terra.
Final
de verão.
Murmura
na calha a água
que
há pouco era nuvem...
O
aguaceiro passa...
Nas
folhas da bananeira
de
novo o silêncio.
Tento
ajustar
o
foco do meu olhar
Ah,
lua enevoada.
Badalar
do sino
No
dia quente que começa
não
me sinto só.
Verão
avançado
E
a baía de Guanabara
refresca
o olhar.
Amigos
se vão
no
início da madrugada
Ah,
lua de verão!
Porta
centenária
abre-se
para bananeira
de
folhas rasgadas.
Passando
o Ano Novo
na
estrada com minha filha
Mochilão
nas costas.
Calendário
novo
ao
lado da ferradura.
Só
pra garantir...
Broto
de bambu
Sons
de flauta na cabeça
enquanto
mastigo.
Remanso
de rio
Algazarra
dos meninos
junto
aos lambaris.
Sorriso
infantil
sob
a barba adocicada
Colheita
de uvas.
A
viajante aranha
imóvel
no pára-brisa
curtindo
a paisagem...
Frio
de primavera
Pára
uma faixa de sol
no
ponto de ônibus.
A
grande pancada
ondulando
pancadinhas
Canto
da araponga...
Goteiras
na sala
A
chuva de primavera
próxima
do vaso.
Adro
da Matriz
No
jacarandá florido
comunhão
de pássaros
Festa
da Cerejeira
curvada
velhinha observa,
última
florada?
Sítio
Nakazone
No
portal de primaveras
família
feliz.
Noitinha
de inverno
Chuva
nos vasos plantados
e
terra nas unhas.
Inverno
sereno
Minha
filha, como é bela
mesmo
ao tomar sopa.
Homem
e mulher
a
televisão ligada
Mantas
separadas.
Ganhando
ceroulas
-
e setenta e cinco anos -
o
tio sorridente.
O
Porto de Santos
Nos
vãos das pedras geladas
pombos
ciscam graos.
Ah,
dedos libertos
na
minha velha sandália
Inverno
acabando.